Há uma linha ténue entre integridade e vulnerabilidade. Vulnerabilidade é algo delicado, frágil e, de certa maneira, fraco. Insegurança.
Se as duas palavras fossem vegetais, a vulnerabilidade seria um lírio e a integridade um carvalho. Já Fernando Pessoa dizia, para ser grande, sê inteiro. E é isso que quero ser com a minha escrita. Não quero sofrer diminuição nem excluir qualquer parte de mim, porque o amor pelos outros começa no amor próprio. E se não há amor próprio, não pode haver amor pelo mundo, pelos outros ou pela vida.
A vida, esta coisa estranha... conhecemos-lhe o início, não lhe conhecemos o fim; a única coisa que nos une verdadeiramente a todos, o mistério de não saber o que aí vem.
Não sendo os homens um B2B, não creio que a qualidade se resuma a conformidade com as especificações. Creio que pode até verificar-se, por inúmeras vezes, o contrário.
É tão fácil cair no julgamento, reprovar aquilo que não conhecemos ou tememos...
Então sabe tão bem acordar de manhã, olharmo-nos ao espelho e acharmo-nos mesmo giros e giras. E são as sobrancelhas, os olhos, o nariz, as orelhas. Gostamos de tudo. Vestimos roupa lavada e calçamos as sapatilhas preferidas e sentimo-nos bem. Pegamos no carro e vamos tomar o pequeno-almoço com um amigo, voltamos e vamos almoçar a um restaurante com uma diária vegetariana mesmo baratinha. Sabe pela vida. A seguir vamos a casa buscar as coisas para estudar e seguimos para o Campo Alegre, vamos estudar para o Jardim Botânico. E as pessoas buzinam e buzinam quando demoras dez minutos para estacionar, mas não faz mal. É um privilégio ter o carro para conduzir. É um privilégio poder estudar. É um privilégio viver numa cidade como o Porto.
É tão bom quando sabemos distinguir o essencial do acessório. O que nos faz bem daquilo que, na verdade, não nos importa. Às vezes o mais difícil é deixar ir. Mas quando deixamos ir carregamos apenas o peso daquilo que é verdadeiramente importante.
Nem sempre a minha cabeça me deixa ter dias como os de hoje. Há dias em que o medo de morrer é tão grande que não me permito aproveitar a vida e o privilégio de a viver com saúde. Há dias em que a ansiedade aperta no peito e o sol, por mais que brilhe, não me toca. Há dias em que os pensamentos pesam como chumbo e ocupam todo o espaço disponível, não dando lugar a mais nada. Há dias em que não acordo preparada para enfrentar a dificuldade de mais um dia. Parece tudo difícil de mais.
Não é correr 10km à chuva que custa. O que custa é saber que haverá um dia em que não vou poder correr os 10km à chuva.
O que me deixa mais feliz é saber que a minha exposição não me destrói a integridade. Fortalece-a. Eu não quero ter vergonha de nada. Eu não tenho de ter vergonha de nada.
O amor próprio constrói-se. E é tão importante. É amar cada ruga e cada ferida. É gostarmos daquilo que vemos e sentimos. É atrairmos coisas boas. É lutarmos para sermos carvalhos :)
Adorei
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