poema sobre corações

perguntam-me porque gosto eu de roubar corações:

no dia em que fizer dezoito anos
esquecerei de que são feitos os sonhos
e os corações das pessoas

a composição dos mesmos é variada.
há aqueles que são feitos do cacau,
porque apesar de leitosos, apresentam leve
travo amargo, a roçar o mau

outros então são salgados e húmidos como o mar
(e peixinhos pequeninos nadam neles sem parar!)

há corações de jornal
que voam com o vento
e outros arenosos como um deserto
sem alento

os corações de aletria
nada têm de especial
esguios, esfiapados
guardo-os para o natal

coração de ganga
é robusto
coração de ouro
tem custo

era uma vez a menina que comia corações
comia-os e comia-os sem parar
um dia comeu tantos
que nunca mais parou de sonhar