é certo que sou sádica e frívola, sendo desse modo inexequível aquilo que me pedem. poderão enxugar-me, que voltarei a arranhar-me em busca de hemácias. poderão unir-me, que voltarei a arrancar cabeças. e de que vale trancarem-me, se não têm a chave da minha alma? é-me indiferente se estou de negro ou não, o meu espírito está de luto desde que nasceu. só muda o vocabulário, as palavras têm um toque e requinte diferente, mas a cabeça indómita e idiota é a mesma. nasci no planeta mais doente, mais imbecil, mais ridículo e irrisório. nasci no meio de seres maléficos e ainda mais sádicos do que eu. há dias em que mais valia estar morta, mas isto de morrer dá uma trabalheira desgraçada. é preciso consolar os que nos querem bem, deixar em atestado toda a quinquilharia que acumulámos em vida e não vale a pena o esforço. a gente, ao fim de dezasseis anos, vai-se acomodando à desgraça comum. mas gostava de ser avestruz para colocar a minha cabeça dentro de um buraco.
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