26.12.14

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Há dias fui tomar café com a Helena e ela tinha estado a chorar. Não que tivesse os olhos muito vermelhos, mas o risco estava desbotado de uma maneira que só está quando alguém chora (é por isso que eu não uso risco nos olhos). Tinha uma carta na mão e pediu-me que a levasse aos correios. Não me quis dizer de que se tratava e eu, que odeio segredos, abri-a descaradamente pelo caminho. 
Por vingança partilho-a aqui:

"Honestamente tenho pena que nunca me venhas a conhecer, mas é impossível conhecê-las a todas e todas temos ciúmes umas das outras.
No mais íntimo de mim sei que nunca seremos felizes.
Que eu vou magoar-te e tu a mim. Que seremos cansados como todos à nossa volta. 
As coisas mais belas são as vivas e o que é vivo nunca dura para sempre...
E a verdade é que se me pedissem para escolher entre ti e os meus versos, eu escolheria os meus versos... sem piedade nenhuma."

Não fui depositar a carta nos correios, mas sim no caixote do lixo mais próximo. 
Ele nunca chegou a conhecer a Helena e eu o desfecho.


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