A 2014

Ao menos não lhe ofereceste girassóis, mas sim rosas, e eu passei assim a amar ainda mais os girassóis e a odiar ainda mais as rosas.

Dezoito anos completados no país onde um dia gostava de viver; um Intra-Rail por sítios que passei a adorar e onde quero regressar. Guardo bosques, jardins, gelados a peso, coroas de flores e superação. 

Um Caminho que nunca me vou cansar de percorrer, com bolhas até mais não, nos pés e no coração.

Um amor espremido durante o Verão, uma relação terminada perto de onde começara, o fechar de um ciclo ainda tão novo e recente, provando que às vezes a vida não deu ainda muitas voltas e já se cansou.

Mas ao menos não lhe ofereceste girassóis e eu permaneci feliz por o meu interior não estar corrompido.

Em Budapeste desci a Avenida Andrássy ao som do 1989 e rodopiei nos meus próprios passos enquanto comia Cookies da Subway. 

Mas ao menos não lhe ofereceste girassóis e girassóis ofereci eu a mim mesma, porque não preciso de ti para ter os girassóis que tanto amo.

Pintei o cabelo de azul e apaixonei-me. Por mim. 

Penso tantas vezes em tudo, na forma como vivo e experiencio a minha vida e quotidiano, e às vezes não compreendem o porquê de eu despender tanto tempo em pensamentos aparentemente inertes, mas tão essenciais para o meu bem-estar e sanidade. Ultimamente tenho analisado a minha vida de forma espectral. Cada vez mais me afasto do gradiente cinzento dos últimos anos, cada vez tenho mais e mais dias coloridos, calmos e serenos. Os monstros são cada vez mais meras fábulas e não coisas reais. 

As minhas palavras são luz e o meu corpo é o universo. Há sítios na minha mente, buracos negros, onde as palavras nunca hão-de chegar. Serão sempre trevas e cicatrizes. Pontos sensíveis, vidros intrincados. 

Às vezes saio para fora de mim e salpico-me de estrelas... Mas é um processo moroso, como a poda, e as estrelas com que me pinto agora só verei brilhar daqui a muitos anos. 

Entrei em 2014 sendo planeta e andorinha. 

Saio de 2014 sendo universo e primavera.