11.12.16

já que por agora não sou um girassol

Este é o meu jeito de chorar.
Sempre me servi das palavras para sentir. O que não sinto no coração, sinto nos meus textos. É por isso que os escritores e os poetas têm dificuldade em guardar segredos. Tudo o que sentimos e até o que não sentimos segue camuflado nas nossas palavras.

É uma graça que sei que tenho e que, claro, tenho medo de perder.
Fui a uma consulta de hipnoterapia no sábado passado e o terapeuta perguntava-me:
"O que queres mudar? Em que é que queres ser ajudada?"
E eu respondi:
"A minha angústia, que me persegue desde que me lembro. E o meu medo da morte e de morrer."
E ele perguntou-me se eu queria mesmo, se tinha mesmo vontade de mudar. E eu disse que sim, pois quem é que gosta de viver a vida infeliz?
Entretanto, no meu íntimo pensava, como serei eu sem estes traços que, apesar de tudo, tanto me caracterizam? O que será feito dos meus textos?

Seria como voltar a conhecer-me de novo. Passar de novo por um período adolescente.
Na adolescência tomamos conhecimento de nós mesmos, tomamos consciência de que a vida é uma semi-recta, conhecemos-lhe o princípio e não lhe conhecemos o fim. E dói.
Sabem aquelas dores de crescimento que todos temos? Eu sentia dores nas pernas, dores no peito... mas a dor da auto-consciencialização foi a que custou mais. 

Escrever é um processo criativo inconstante e nada transparente. É um consolo, é a minha alma a ganhar forma e a materializar-se em palavras, uma necessidade sôfrega que me faz esquecer quaisquer outras preocupações. Com 20 anos, a entrar na vida adulta, a afogar-me em preocupações mundanas, mas necessárias, é preciso lembrar-me daquilo que sou genuinamente. 

Só de pensar que estamos todos condenados à mesma existência, à mesma efemeridade. Seremos todos pó, seremos todos girassóis. E no entanto receamo-nos tanto; uns aos outros. Há um medo tão grande em sermos quem somos.

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