Erasmus na Suécia - Dia 8 (Trolltunga - inesquecível)

Olá amigos,

Hoje foi sem dúvida o melhor dia desde que aqui cheguei. Foi também o primeiro dia em que não chorei. Sinto que completei uma daquelas lifetime experiences, daquelas coisas que se tem de fazer pelo menos uma vez na vida. O meu relógio marca 35km, percorridos entre trilhos escondidos de uma beleza indescritível. O truque para me ter sentido bem foi ter estado entretida durante todo o dia, principalmente nas tais horas críticas de que vos falei ontem.

O dia, mais uma vez, começou cedo. Acordei às 5h30 para me arranjar, pois o autocarro passou pelo hostel às 6h30. Às 7h estava a começar a caminhada, que sobe continuamente nos primeiros 4,3km. Após um ou dois km comecei a falar com um rapaz da Malásia, que pelos vistos está também hospedado no meu hostel, e acabámos por passar todo o dia juntos, o que foi bom para ter companhia durante tantas horas seguidas a caminhar.

O percurso é LINDO. Daquelas vistas que nos fazem a nós, humanos, curvarmo-nos perante a beleza estonteante que apenas a natureza consegue produzir. Arrebatador, inesquecível, poderia usar todo um conjunto de sinónimos para vos tentar transmitir a sensação de paz ao ver a natureza em todo o seu esplendor, intocada pelo homem. É algo emocionante. Estávamos literalmente nas nuvens, como podem comprovar pelas fotografias abaixo.

Chegados a Trolltunga (outro wow) estivemos 3h em pé numa fila para tirar a tão esperada fotografia. Até se passou bem, pois íamos falando com os nossos vizinhos de fila e íamos rindo ou sustendo a respiração com as poses por vezes muito arriscadas que algumas pessoas faziam.
Quando finalmente chegou a minha vez, ia um bocadinho nervosa, com medo que a pedra se decidisse partir aos bocadinhos ou assim, mas lá cheguei até aonde me senti confortável, ergui os braços e tirei a minha foto, contente. A foto é como um prémio pelo esforço empreendido numa caminhada tão longa, e devo admitir que ao descer senti mais dificuldade, pois estávamos com medo de não conseguir apanhar o autocarro e viemos os 15km sempre em passo apressado, sem parar.

Para realizar esta caminhada recomendo essencialmente umas botas de caminhada à prova de água, duas camadas de roupa confortável e térmica, um casaco de chuva e uma mochila com água e comida. E, claro, algo para registar os momentos! Tem algumas partes um bocadinho técnicas, mas nada de impossível.  

De regresso ao ponto de partida, fui de imediato ao quarto de banho. A verdade é que me encontro naquela altura do mês em que quase todas as mulheres deste mundo se encontram mensalmente, embora por alguma razão seja um assunto tabu, e como devem imaginar foi um dos motivos de maior desconforto durante todo o dia - não há nenhum quarto de banho durante o percurso, nem sequer vegetação alta!! Se calhar algumas pessoas acham esta partilha desnecessária, mas para mim enquanto mulher julgo ser importante desmistificar situações que acabam por nos acontecer a todas, embora não habitualmente partilhadas por termos vergonha de um fenómeno natural do qual não temos culpa. 

Como cheguei antes do autocarro quase 40 minutos, sentei-me num banquinho a comer uns waffles e uma Coca-Cola (6,5€ tudo, no total, nem foi mau).

Hoje escrevo-vos cedo, porque amanhã tenho de acordar novamente muito cedo (e ontem já não dormi o suficiente) - às 4h20, porque vou ter de apanhar às 5h20 um autocarro que me levará novamente até Bergen. Já devia estar a dormir! No entanto, ainda vou tomar banho e cozinhar esparguete.
Passarei o dia inteiro em transportes até finalmente chegar a Gotemburgo às 21h30, onde me vou reencontrar com os meus pais!

Sou abençoada? Sou. E mesmo assim às vezes sinto-me tão mal. Os distúrbios mentais são um assunto sério. Mas para todos os que sofrem deste mal e eventualmente me estiverem a ler, estou aqui para dar uma palavra amiga. Quando nos sentimos em baixo, as coisas que parecem fáceis aos olhos daqueles que se sentem bem parecem para nós um obstáculo impossível. Ficamos presos dentro da nossa própria irracionalidade...

Quanto à Noruega, definitivamente recomendo paisagem cénicas e caminhadas em detrimento de cidades como Oslo. É o que este país tem de melhor e deve ser aproveitado! Têm é de fazer uma dança do sol para apanharem bom tempo!

Beijinhos de uma pessoa que nada com força para se manter à superfície, ainda que seja incrivelmente fácil boiar.

PS: Fico deveras sensibilizada com as mensagens e chamadas que tenho recebido diariamente, nunca me senti tão amada.

PS2: Sinto-me perto de vocês quando escrevo aqui! As palavras serão sempre tanto o refúgio quanto a porta sem chave para o meu coração.

Inês