Erasmus na Suécia - Dia 5 (Oslo & o dia que mais me custou até agora)

Olá amigos,

Começo a pensar que algo está errado comigo. Hoje é o quinto dia e as lágrimas não param de cair. Choro, choro e choro. A maior parte das pessoas dizem que esta é a melhor experiência das suas vidas, mas eu só consigo pensar que esta está a ser a pior experiência da minha vida. Sinto uma solidão como nunca na vida senti, um sentimento destrutivo e arrasador, que nem consigo bem colocar em palavras. Só chorar e esperar que as lágrimas lavem esta dor de não ter quem mais amo por perto.

Sempre vivi querendo aproveitar cada dia ao máximo, pois a vida é tão curta, mas neste momento só quero que os dias passem e passem até chegar ao dia do Francisco vir. E, mais tarde, até ser o dia de me enfiar num avião e ir para casa. Sinto que estou a desperdiçar dias da minha vida, porque aqui só consigo sofrer.

Viajar sempre foi das coisas que mais adorei fazer, mas neste momento viajar é um suplício, custa-me como nunca caminhar pelas ruas pois carrego dentro do coração uma pedra que não consigo caracterizar. Um peso enorme.

Hoje acordei às 5h da manhã, vesti-me e saí de casa pois tinha de apanhar às 5h45 um autocarro para Gotemburgo. Como ainda estava relativamente escuro o Francisco falou comigo ao telefone até à estação. Para os que não sabem, eu morro de medo de caminhar sozinha na escuridão. Sim, vim claramente para o país certo. 

Lá cheguei até à estação e apanhei o autocarro, que chegou 10min atrasado. Passado uma hora cheguei a Gotemburgo e estive duas horas na estação à espera do outro autocarro que me levaria até a Oslo. Estava frio na estação, vesti duas camisolas térmicas, desenrasquei umas luvas com um par de meias e enrosquei-me num banco à espera, dormitando um bocado.
Lá chegou o autocarro e fui dormindo durante a viagem até Oslo.

Estive a deambular pela cidade pois só poderia fazer o check-in no meu budget hotel às 15h. O tempo estava tão esquisito. Ora fazia sol, ora chovia, ora vinha uma ventania desgraçada. Quando esteve pior tempo sentei-me dentro da ópera a comer o meu pão com queijo. Deambulei mais um bocado e depois fiz o check-in no budget hotel, onde fiquei num dormitório misto com seis camas.

Depois, para desanuviar, resolvi apanhar um autocarro até à zona dos museus e fui visitar o Museu Fram, sobre as expedições polares norueguesas. Foi interessante e sempre serviu para me distrair durante uma hora e meia. Pensei na coragem daqueles homens de arriscarem as suas vidas estando longe das famílias durante anos e anos a fio. Só pensava que nunca seria capaz de uma coisa assim.

Às 18h tive de sair, e também não pude visitar mais nenhum museu, pois todos fecham às 18h. Aliás, tudo fecha cedo aqui, é impressionante. Decidi apanhar o autocarro de volta e sair numa estação perto de um restaurante vegan para poder jantar mais em condições. Escolhi um sitio chamado Funky Fresh Fruits, que era recomendado na app vegan da Noruega. Cheguei por volta das 19h lá e jantei um hamburguer muito bom com uma Coca-Cola fair trade. Custou 25€. Doeu, claro que doeu, mas ao fim ao cabo é o país em que estou.

Acabada de jantar queria ir tomar qualquer coisa aconchegante no Starbucks, mas como já passava das 20h, já estava fechado. Bolas. Está tudo fechado nas ruas, é horrível. Não tinha alternativa a não ser voltar para o hotel. 

Cá cheguei quase às 21h e estive em chamada com o Francisco e com os meus pais. Não consigo parar de chorar e os meus pais até sugeriram que eu voltasse para a Suécia. Fiquei quase ofendida. Voltar para a Suécia e abortar esta viagem, sendo que que um dia já passou e faltam outros quatro era desistir de algo, que foi o que eu nunca fiz.

Claro que penso que a mente é um lugar estranho e perigoso e tenho medo de que aquilo que estou a sentir não seja normal e seja derivado das minhas tendências depressivas. O meu problema acaba por ser este, é-me difícil perceber onde está o limite do normal e o que já não é normal.

E eu sei que vim por escolha própria, que é temporário, que não vim trabalhar como trolha para a França nos anos 60, mas cada pessoa tem o seu limite. Não me quero anular a mim mesma, mas estou num lugar estranho da minha cabeça, que não desejo a ninguém.

Só espero que melhore.
Obrigada a todos os que me têm dado apoio.
Tenho pena de não ser mais forte.

Amanhã acordo cedo novamente pois tenho um comboio para Bergen às 8h25 para apanhar.

Beijinhos

Abracem a vossa família e os vossos amigos, porque sem isso não somos mesmo nada. Eu não sou mesmo nada.

Inês