Olá amigos,
Escrevo-vos a partir de Bergen, a segunda maior cidade da Noruega e uma porta aberta para a exploração dos famosos fjords, um tipo de formação geológica muito comum na Noruega, caracterizado pelas grandes entradas de mar por entre cadeias rochosas. É lindo de verdade.
Dormi bastante bem, mas com uma interrupção grande pelo meio. Éramos seis no quarto, e as três pessoas que faltavam quando adormeci inicialmente resolveram voltar às 2h30 (fim de noite nos países nórdicos, aqui não se sai até às 7h como em Portugal) completamente bêbedas. Fizeram tanto barulho, uma coisa inexplicável. Mas eu estava tão cansada, que nem um "shiu" mandei.
Acordei às 7h30 e o Francisco, como estava acordado por estar a fazer o turno da noite, fez-me companhia ao telemóvel até eu chegar ao comboio. Ainda tive tempo para tomar um pequeno almoço apressado no hotel. Comi um pão com queijo, gomos de laranja, alguns cereais e sumo. Lá fui a correr para a estação e apanhei o comboio às 8h25.
A viagem é longa (5h30 de duração), mas muito bonita. A paisagem está quase intocada pelo homem e conseguimos ver também as tão típicas "cabins" em locais remotos onde os noruegueses gostam de passar o seu tempo livre e simplesmente relaxar.
Em algumas das montanhas até neve de verdade consegui ver!!! (eu só vi neve uma vez na vida, na Serra da Estrela, e lá nunca se sabe até que ponto ela é verdadeira ou não), o que me deixou entusiasmada.
Acordei a sentir-me melhor. As mensagens de apoio que tenho recebido têm sido incríveis, e ontem particularmente. Consegui ao fim de algumas tentativas conectar-me ao Wi-Fi do comboio, o que me permitiu ligar o Spotify e ir a ouvir música durante a viagem. Escolhi ouvir a Lorde no seu mais recente álbum, chamado Melodrama. A Lorde é uma cantora neozelandesa com a minha idade dotada de uma capacidade de escrita incrível, e faz canções com as quais me identifico imenso. Em Outubro vou poder ir ver um dos concertos da Tour dela, que vai passar por Estocolmo, com a minha querida amiga Mariana, que me vem visitar :)
Durante a viagem de comboio os meus pais resolveram surpreender-me e marcaram uma viagem de avião para me virem visitar. Chegam a Gotemburgo na quarta à noite (tal como eu) e vão embora na segunda. Tenho ou não tenho os melhores pais do mundo?? Enquanto escrevo isto tenho medo que alguém pense de mim "que mimada, nem uma semana aguentou a estar sozinha", mas já lá vamos.
E aí no comboio chorei pela primeira vez neste dia. Mas foi um choro diferente, não de tristeza, mas de emoção pela minha vida abençoada. Fui abençoada com um corpo saudável, com uns pais incríveis, uma irmã igualmente saudável e bem sucedida, uma família unida e com grandes exemplos de superação, e conheci no início deste ano a pessoa mais espetacular por quem me sinto apaixonada até ao osso e que me trouxe a segunda família mais espectacular também. Abençoada porque vivo numa era onde posso partilhar com vocês no imediato aquilo que estou a sentir e também no imediato posso receber o vosso carinho de volta.
Quando cheguei a Bergen decidi comprar antecipadamente o bilhete de autocarro para o dia de amanhã, e quando ele saiu na máquina, para meu grande horror, vinha com a validade do dia de hoje. Como assim?! O bilhete foi caríssimo (29 euros) e descobri que não havia nada a fazer, que tinha de comprar outro bilhete. Vou ter de fazer uma reclamação. Como é domingo o customer service estava fechado e não havia ninguém que me pudesse ajudar. Nisto também fiquei na dúvida de se seria válido eu comprar bilhete de estudante, porque o site da companhia dá a entender que só estudantes noruegueses podem usufruir do desconto. No final do dia um motorista disse-me que podia, mas não fiquei convencida, pois ele esteve a analisar o meu cartão e foi esquisito. É que o bilhete de estudante é quase metade do valor total (50 e tal euros).
Conclusão, este percalço deitou-me abaixo, e de uma forma completamente irracional.
Comecei a chorar e assim foi quase a tarde toda. Entrei numa espiral de pensamentos negativos e não conseguia sair. Comecei a sentir um vazio dentro de mim que me tirava as forças para fazer fosse o que fosse, como se me tivessem tirado os óculos que me permitiam ver o mundo real. Fiquei ansiosa e a sentir-me com medo dos meus próprios pensamentos. Quem já esteve numa depressão sabe do que falo. É algo delicado e perigoso, e incompreendido e negligenciado por muita gente.
Comecei a chorar e assim foi quase a tarde toda. Entrei numa espiral de pensamentos negativos e não conseguia sair. Comecei a sentir um vazio dentro de mim que me tirava as forças para fazer fosse o que fosse, como se me tivessem tirado os óculos que me permitiam ver o mundo real. Fiquei ansiosa e a sentir-me com medo dos meus próprios pensamentos. Quem já esteve numa depressão sabe do que falo. É algo delicado e perigoso, e incompreendido e negligenciado por muita gente.
Fui a uma farmácia tentar que me dessem o meu anti-depressivo, que deixei na Suécia, lavada em lágrimas, mas só me deram a morada da emergência médica.
Ao telefone com os meus pais, a minha mãe sugeriu-me novamente que eu voltasse para Borås, e eles quarta lá chegariam, mas eu isso não posso fazer. Não me posso deixar vencer pelos meus medos, pela minha irracionalidade. Sei que me falta qualquer coisa que as outras pessoas têm, mas tento lutar com todas as minhas forças para dar a volta. A minha tatuagem (molécula da serotonina) é o símbolo da luta que tenho travado contra a minha própria cabeça desde o início da minha adolescência.
Ao telefone com os meus pais, a minha mãe sugeriu-me novamente que eu voltasse para Borås, e eles quarta lá chegariam, mas eu isso não posso fazer. Não me posso deixar vencer pelos meus medos, pela minha irracionalidade. Sei que me falta qualquer coisa que as outras pessoas têm, mas tento lutar com todas as minhas forças para dar a volta. A minha tatuagem (molécula da serotonina) é o símbolo da luta que tenho travado contra a minha própria cabeça desde o início da minha adolescência.
Chegada ao hostel recebi uma chamada inesperada, os meus queridos cunhados Filipa e Miguel ligaram-me a partir de França para dar apoio. Eles também já passaram por este choque. Fiquei tão contente por ter sentido que se preocupavam comigo.
Decidi tomar um banho quente e agora estou deitada na minha cama a escrever-vos. Penso em tudo o que já conquistei na minha vida. Penso na meia maratona que corri com a minha querida amiga Ana, que me tem dado um apoio incrível também, e no quanto me apetecia desistir e caminhar, mas não o fiz e juntas demos as mãos nos últimos km e ultrapassamos a meta. Foi tão incrível.
Vivo um dia de cada vez, mas com objetivos bem definidos que me fazem querer continuar a viver, ticking boxes. Completei o 8o grau de piano, estou quase a completar um curso de engenharia, consegui conquistar a pessoa mais espectacular (e sexy) à face da terra (apesar de estar a ficar careca), e tenho o vosso apoio. Vocês são a minha claque e são os vossos comentários que me têm dado força.
Amanhã acordo às 7h20, pois às 8h20 tenho um autocarro para apanhar. Vou até Odda conhecer mais uma vila norueguesa e no dia seguinte vou fazer uma caminhada de 20km até à Trolltunga (pesquisem no Google, é muito bonito).
Obrigada por tudo e por darem forças a uma pessoa claramente emocionalmente frágil e descompensada (mas que ainda assim consegue ser feliz - graças a vocês).
E, porque ainda não o referi e eles também lêem o blog e merecem mais que tudo, deixem-me dizer-vos que o Sr Domingos e a D. Odette (com dois 't') são os meus anjos na terra :) queridos avós que eu tanto amo.
Melhores dias virão e eu estarei cá para os viver,
Inês
Que bom que já te sentes melhor e já consegues ver o quão sortuda és e o quanto és capaz de vencer tantos obstáculos!
ReplyDeleteContinua a escrever que eu estou a gostar muito de acompanhar (e revejo-me em ti em imensa coisa).
Beijinhos ��
Muito bem! Força. Só custa ao início! :)
ReplyDeleteNão dá para falhar um dia de leitura! Continua com muita força porque nós conseguimos sempre tudo o que queremos , basta acreditar. Um beijinho gigante ❤ sempre leitora, Mariana Coimbra
ReplyDeleteSão fantásticos os teus textos Inês. Tu es capaz de vencer todos os teus medos e de enfrentar todos os obstáculos que ainda virão. Pensa que o início custa sempre, mas depois a recompensa que virá será sempre maior. Força Inês. Beijinho grande meu e do Bruno. E não te esqueças estamos sempre contigo. ����
ReplyDeleteQue sorte eu tenho em ler estes textos! Na verdade, nao estou a ler, estou a ouvir, ou melhor, estou s sentir. Esta é uma viagem 'tríptica': temos a geografia e a paisagem, temos os sentimentos e pensamentos, e, temos a dicotomia, entre uma permanente construçao e descontruçao, do necessário equilibrio.
ReplyDeleteObrigada nezeles, este é o caminho! Continua a ter a força que tens demonstrado.
Olá Inês.
ReplyDeleteNao te conheço mas acedi ao teu blog através da ashtag visitStockholm no teu insta quando andava à procura de dicas sobre a cidade. Acabo de regressar de um fantastico fim de semana de 3 em Estocolmo e queria agradecer-te a partilha pois ajudou-me a construir alguns dos meus itinerarios. Este foi o nosso segundo contacto com a Suecia, antes visitamos Gotemburgo e fiquei a gostar bastante do povo sueco. Parecem ser bastante descontraídos e muito "Welcoming", ao contrario dos noruegueses...
Não tenho experiencia de Erasmus, mas há mais de 12 anos que emigrei para o Reino Unido. Não vim sozinha, comigo trazia a minha filha de 5 anos. O meu marido ja ca estava. Mesmo assim os primeiros meses de adaptação foram muito complicados. Deixar tudo para trás, é sempre muito doloroso, quer se tenha 20 ou 30 anos, como era o meu caso. O medo do desconhecido, do que nao nos é familiar tolda-nos... Levou-me 6 meses a ser capaz de conduzir cá. Em Portugal fazia Porto-Lisboa sozinha, noite ou dia sem problemas, e aqui até para ir ao hipermercado preferia ir a pé e carregar os sacos. Hoje em dia, olho para tras e vejo esses tempos como uma aprendizagem necessaria, sao etapas que precisamos ultrapassar, com calma.
Mas o que me levou a comentar, foi o facto de que muitos dos problemas que relatas são comuns a qualquer viajante. Em Abril, fui com a minha familia passar a Pascoa (5 dias) a Budapeste e só ao terceiro dia é que percebemos que se tivessemos comprado o Group Travelcard para a totalidade da nossa estadia, tinhamos poupado dinheiro. Essas pequenas distracções sao normais e fazem parte das memorias "para um dia contar aos netos". Uma das coisas que costumamos fazer é visitar os pontos de informação turistica, normalmente têm sempre dicas e até vouchers/descontos para sitios onde se possa fazer refeições mais em conta. Embora nos paises nordicos qualquer snack é uma pequena fortuna.
Desculpa o longo comentario, é a minha veia de mae a falar. No proximo ano será a vez da minha filha seguir caminho para a Universidade, se tudo corer bem...
Estou a gostar de acompanhar as tuas aventuras pelo Norte. Fiquei novamente com vontade de ir explorar o percurso Oslo-Bergen, que ainda está na minha bucket list. Boas descrições. Enjoy!
Ps - Nao sei como é na Suécia mas aqui no UK, terias de estar inscrita no medico de familia para adquirires medicamentos na farmacia. Só mesmo medicamentos basicos para gripes ou dores, tudo o resto é sujeito a receita.
Mrs Marshmallow