11.11.17

Erasmus na Suécia - Dias 88 e 89 (Uma carta de amor aos meus dois anjinhos)

Hoje faço uma pausa na minha rotina (aulas, lavandaria, ver séries e A Herdeira, estudar, ler, ir ao café... não perdem grande coisa) e deixo umas pequenas palavras dirigidas aos meus avós.

Na terça-feira fui aos correios enviar um postal de aniversário para os meus avós. A minha Avó Odete fez anos ontem e o meu Avô Domingos faz anos hoje, assim seguidinhos. O postal chegou ontem de manhã cedo, tal como eu queria :)

Quando somos pequenos, absorvemos tudo. Aprender é muito mais fácil, e rápido. Mas nem sempre estamos conscientes desse processo que ocorre. E neste caso falo do amor com que sempre me rechearam estes meus dois avós, que fazem com que o cheiro daquela casa grande em Caldas de São Jorge seja sempre o "cheiro a casa", suave e tranquilizador, de cada vez que lá vou. Foi onde eu cresci, aprendi a andar de bicicleta, semeei as sementes da maçã que tinha comido ao almoço na terra, aprendi tanto sobre pássaros com o meu tio Paulo, tentei bordar vestidos para o gato siamês Rex, que abanava a cauda chateado.

Há coisas que desvanecem, mas ainda tenho bem presente na memória as minhas pequenas galochas cor de laranja, ao lado das galochas grandes da Maria.

Sinto-me feliz por ter tantas e tantas memórias boas. Escrevo isto e vou-me lembrando. Em Dezembro, montar o presépio com a minha avó, com o musgo ainda fresco, e sorrateiramente roubar uma das ovelhas de barro. A cada ano que passava eram menos ovelhas, um mistério!

Ia sempre (rotina certa) depois das aulas da manhã ao Quiosque com o meu avô, e ele comprava o jornal para ele  e uma revistinha da Turma da Mónica ou outra qualquer para mim.

Ao almoço era sempre uma luta. Os meus avós queriam ver a Praça da Alegria e o Telejornal e eu o canal Panda. No dia do meu aniversário, quando eu chegava a casa, havia tréguas e já estava lá o Canal Panda à minha espera, e num dos aniversários o meu Tio Paulo tinha gravado uns 30 DVDs com filmes para mim.

Ainda eu nem sabia ler e o meu avô sentava-me no seu colo e eu palrava as minhas histórias para ele escrever.

A minha avó, no verão, abria os livros da primária do ano seguinte, e começava a ensinar-me. 
Mas antes de ir para a primária já me tinha ensinado a ler com as letras do jornal.
Sempre que um novo ano começava lá ia eu com os meus livros novos e, na primeira página, o meu nome escrito na caligrafia absolutamente impecável do meu avô.

Dizem que nos vamos esquecendo das memórias de infância à medida que vamos crescendo, mas talvez por me ter cedo apercebido da minha enorme sorte, do quão preciosos foram e são esses momentos, fui-me sempre agarrando, tanto ao presente, como a essas memórias.

Parece que ainda sinto o sabor do café que a minha avó me dava (uma colher apenas!) quando eu era pequena.

Foram dias e dias, dias na sua maioria rotineiros, sem nada de especial e extraordinário, que marcaram o meu coração, raízes das mais lindas flores.

E estou muito feliz por mesmo aqui na Suécia, poder continuar a construir essas memórias tão importantes, com as chamadas que lhes vou fazendo :)

Já me ia esquecendo do arroz branco da minha avó (o melhor do mundo), dos panados de tofu (que ela aprendeu a fazer para mim!), da feijoada, da mousse de chocolate, do bolo de mármore... os almoços de Domingo...

Tenho mesmo sorte!

MUITOS PARABÉNS :)

Obrigada pelo vosso amor incondicional! 

Da vossa neta que vos adora,

Inês 











4 comments:

  1. Querida Inês:
    Estou emocionada com as tuas lembranças de infância!!! Adorei, grata. Eu quando nasci já não tinha avós, faleceram, a materna antes um mês do meu nascimento, a paterna quando tinha 2 meses!!! Os meus irmãos, mais velhos contam histórias maravilhosas com as avós com quem conviveram muito.
    As tuas recordações garanto que nunca as irás esquecer...há coisas que ficam para sempre nos nossos corações!
    Dei os parabéns, pelo telefone, à avó Odete ontem, e hoje ao avô Domingos: são uns amores como dizes.
    As fotografias que postaste são marcantes e excepcionalmente belas...
    Parabéns pelos avós que tens e pelo que és.
    Beijinhos desta "chata" ihihihiiiiiiiiiiii

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  2. E assim foi a infância: um privilégio 💝

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  3. Confirmo tudo! Que memórias saborosas! Inesquecíveis! Reciprocas.

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  4. "O importante não é a casa onde moramos. Mas onde, em nós, a casa mora."
    Mia Couto

    É mesmo um privilégio ter uns avós presente�� assim.
    Já não tenho avós, mas o meu avô aos 91 anos ainda me foi visitar ao Reino Unido. :)

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